"O escritor é uma das criaturas mais neuróticas que existem: ele não sabe viver ao vivo, ele vive através de reflexos, espelhos, imagens, palavras. O não-real, o não-palpável. Você me dizia "que diferença entre você e um livro seu". Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vitória nossa de cada dia



"Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhcer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme, e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adoraro por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmo e para que no fim do dia possamos dizer 'pelo menos não fui tolo' e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temos-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."


Clarice Lispector
in Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres


"Aqui,o que permanece,é o que intensifica: - A força a qual se adentra e fica."

                                        Patty Vicensotti

"O Mais ou Menos é que me Incomoda" Cazuza



"A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. 

A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. 

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos... 

TUDO BEM!

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum... 
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. 

Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos."


Chico Xavier 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sejamos Delicados


"Aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia. E mesmo assim, ainda insisto"


Caio Fernando Abreu


Meus amigos, meus irmãos, sejamos delicados, urgentemente delicados.



Com a delicadeza de São Francisco, se pudermos.



Com a delicadeza rija de Gandhi, se quisermos.



Mas de novo vos digo: sejamos delicados.



 E se necessário for, cruelmente delicados.

Affonso Romano de Sant'Anna

''Sem tempo para lidar com mediocridades" Rubem Alves



"Desprezível é tudo aquilo que não colabora  para o enriquecimento do humano, mas para  a sua (ainda) maior degradação. Como se fosse  possível. Pior que sempre é."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"O que desejamos não se diz, se arde"



"(...) Dor, susto, drama e tragédia, a gente nasce sabendo. Saber ser feliz exige décadas para entender e, ao mesmo tempo, pede tão pouco. Muitas vezes, se vive somente para relatar o quanto nossa vida é impressionante, mas lá no fundo persiste uma mágoa desconfiada de não vivermos o que realmente desejamos.

- O que desejamos não se diz, se arde!"

Fabrício Carpinejar